segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Tiago Santana 1


Um comentário:

Marcos Vieira disse...

Mistério da fé
O cearense Tiago Santana expõe trabalhos publicados no livro Benditos, sobre a devoção dos romeiros de Juazeiro do Norte
Ivan Claudio

Tiago Santana

Tumba do Padre Cícero: transe religioso retratado sem obviedade através de ângulos pouco comuns e tonalidade contrastada
Muita gente já documentou a cidade sagrada de Juazeiro do Norte, no Ceará. Mas poucos chegaram tão perto de sua mística como o fotógrafo cearense Tiago Santana, 34 anos, um dos grandes jovens talentos da fotografia brasileira. Por oito anos, ele voltou suas lentes para o município onde viveu o mítico Padre Cícero e agora o revela em 70 belíssimas fotos no livro Benditos (Tempo D’Imagem, 160 págs., R$ 60) e na exposição homônima, em cartaz no Sesc Pompéia, em São Paulo, dentro do 5º Mês Internacional da Fotografia. Natural de Crato, a sete quilômetros de Juazeiro do Norte, destino anual de multidões de romeiros e peregrinos, Santana conviveu desde pequeno com a riqueza das festas religiosas. De sua avó, Neli Sobreira, que conheceu o Padre Cícero “ainda meninota”, costuma ouvir histórias de milagres e devoção. “Tudo isto ficou muito marcado na minha cabeça. A decisão de me tornar fotógrafo foi devido a Juazeiro. Queria dar a minha interpretação daquele lugar”, afirma Santana, há seis anos morando no Rio de Janeiro.

Para retratar o universo dos fiéis, com seus chapéus de palha e rosários no pescoço, o fotógrafo optou pelo preto-e-branco contrastado, que reproduz a luz dura do sertão nordestino e incorpora a dualidade sagrada e profana das xilogravuras do cordel. Ele também trabalhou com lente grande angular, que, entre outros recursos, permite ao fotógrafo chegar bem perto do retratado – às vezes um penitente que pede a graça tocando a estátua do padre famoso, outras um pagador de promessas trajado de preto. Santana quis, assim, se afastar da documentação óbvia, evitar o burburinho das multidões e traduzir um pouco do pacto de cada um com o sagrado.

Tiago Santana

Peregrinos
Compulsão – Como parte de seu objetivo, viajou até de pau-de-arara com os romeiros, em jornadas de 40 horas. “São cento e tantas pessoas sentadas na carroceria, cantando os benditos com alegria, uma gente que não tem por que ser tão alegre e generosa.” Ele perdeu a conta de quantas viagens fez à cidade entre 1992 e 1999, período no qual se dedicou ao trabalho. A exposição, que tem curadoria de Rosely Nakagawa, foi lançada em outubro do ano passado no Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, e também está em cartaz em Liége, na Bélgica. Ao todo, foram mais de quatro mil fotos para chegar à seleção das 70 finais. “Sou compulsivo, vou fotografando e às vezes nem sei o que fiz.” Basta ver seus trabalhos e constatar que Tiago Santana mergulhou em outro transe, o da revelação dos mistérios da fé.