segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Tiago Santana 3


Um comentário:

Marcos Vieira disse...

Fotografia: a arte e a técnica

Entrevista concedida pelo fotógrafo Germano Schüür à revista Informativo Randon em outubro de 1986.


É final de ano, início de uma nova jornada. Vêm as férias, muito sol. Uma renovação toma conta das pessoas, com o verão e o calor. Isso nos sugere alegria, novo ânimo, cor. O que melhor do que fotografar esses momentos que serão, certamente, muito agradáveis ? Pensando nisso, procuramos o Professor Germano Schüür, biólogo, pós-graduado em Ecologia, e professor universitário, destacado artista do campo da fotografia no Rio Grande do Sul.

Em 1984, Germano coordenou a Mostra "1.° Clic Ecológico do Ambiente Gaúcho", promoção da Universidade de Caxias do Sul.

Ele fez várias mostras individuais de seus trabalhos, na Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu, em Caxias do Sul, e no Município de Nova Petrópolis, na serra gaúcha. Participou de diversas mostras coletivas.

No concurso "Imagem de Nova Petrópolis ", o professor Schüür conquistou os quatro primeiros prêmios, prova de seu talento fotográfico. Em julho/86 realizou Mostra Fotográfica "Nova Petrópolis in Farben " e em agosto último venceu o Concurso Grande Prêmio Fotografia "Fotografe o Castelo Dia e Noite", promovido pela Fundação Cultural Château Lacave, em Caxias do Sul.

Na matéria que segue, Germano nos dá algumas dicas muito interessantes sobre a arte e os segredos de fotografar.


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Informativo - Em fotografia, onde termina a técnica e começa a arte?

Germano - Entendo que a técnica em fotografia é um meio para chegar a um fim. Este fim, sem dúvida, é a produção da fotografia, considerada por alguns como a manifestação mais democrática da arte. Como em qualquer forma de expressão artística, seja na literatura, na música ou nas artes plásticas, procuramos comunicar o que sentimos através de diferentes técnicas, específicas para cada proposta, sem, entretanto, deixar que as mesmas prevaleçam e ofusquem a mensagem da obra.

Aqueles que encontram na fotografia apenas o resultado do desenvolvimento tecnológico dos equipamentos eletrônicos, óticos e químicos utilizados para a produção da fotografia, estão muito longe de entender o verdadeiro significado da arte fotográfica. Fotografia é a utilização de determinadas técnicas para codificar em imagem o mundo pessoal daquele que fotografa. E a foto arte exprime justamente isto, o sentimento do fotógrafo sobre as pessoas, a natureza e o mundo que o cerca.

Informativo - Pode-se ser um fotógrafo, aprendendo apenas a técnica, ou aquele algo mais de fotografias belíssimas que se vê transposto para a foto, é do interior do "fotógrafo"?

Germano - O equipamento básico do fotógrafo é a câmara que, por mais sofisticada que seja, simplesmente registra a luz que atravessa a objetiva no momento em que o disparador é acionado. Entretanto, é o fotógrafo que opta e seleciona o objeto e o conjunto de luzes que deverão ser fixados por sua máquina. Assim, a maioria das obras famosas e de primor artístico são fotos que testemunham a postura e a personalidade artística do fotógrafo frente à vida e não apenas o seu domínio e o seu conhecimento sobre os elementos técnicos da fotografia. Para tirar uma boa fotografia, em primeiro lugar é essencial sentir a emoção de viver e ter a criatividade de procurar todos os melhores recursos técnicos para poder registrá-la.



Informativo - Existe hora mais ou menos adequada do dia para fotografar?

Germano - Quem sabe diríamos que a hora mais inadequada para fotografar é ao meio-dia, quando o sol alcançou seu ponto mais alto, produzindo sombras muito contrastantes e nem sempre agradáveis em fotografias de ambientes ou pessoas. Durante o dia, a luz do sol vai mudando de direção, altura, cor e qualidade, modificando o aspecto de uma paisagem. Assim, no alvorecer, os primeiros raios de luz criam um conjunto de tons pastéis que ficam suavizados pela bruma característica deste horário. É um bom momento para se tentar explorar este tipo de iluminação. Por outro lado, no fim da tarde, quando o sol cai no horizonte e começa o crepúsculo, o céu se transforma, com tons cor-de-rosa, produzindo uma iluminação lateral que evidencia a textura e o relevo de uma paisagem além de proporcionar, sucessivamente, cores mais quentes - amarelada, dourada e avermelhada, até acontecer o ocaso. Durante estes poucos minutos a paisagem se altera sem cessar, proporcionando um sem número de possibilidades de se fazer uma boa fotografia.

Gostaria de registrar também que a fotografia feita com o sol totalmente encoberto cria condições ideais para uma proposta suave sem grandes contrastes. É indicada, principalmente, para tomada de pessoas.



Informativo - A qualidade da máquina e da lente têm quanto a ver com a qualidade da fotografia?

Germano - É evidente que o resultado do trabalho de um fotógrafo também está na dependência do equipamento utilizado para tal fim. Entretanto, como já disse, a fotografia não é só técnica e equipamento. É a somatória de muitos elementos. Muitas vezes. uma boa idéia associada à sensibilidade ou à sorte de encontrar o momento certo, pode produzir um bom trabalho, independentemente do equipamento que se esteja usando. Já vi muita coisa boa feita com câmaras modestas.



Informativo - Zoom, teles, tripés e todo o tipo de aparato que conhecemos. Como uma pessoa deve se orientar para adquiri-los? Tipos de lente, ótica, detalhes indispensáveis na aquisição do equipamento básico e do complementar. O senhor poderia ajudar nossos leitores ?

Germano - Deixemos de lado os acessórios e vamos encarar, em primeiro lugar, o indispensável, ou seja, a câmara fotográfica. Atualmente, as câmaras de 35mm, mono-reflex de objetivas cambiáveis são as mais recomendadas. Apresentam um espelho e um prisma que permitem ver a cena através da mesma objetiva que faz a fotografia. Assim, o fotógrafo vê exatamente o que está fotografando. Além disso, pela possibilidade de se trocar de objetivas, pode-se usar uma objetiva grande-angular para abranger uma porção maior da cena e uma teleobjetiva para aproximar objetos distantes. Por outro lado, este tipo de câmara admite uma série de acessórios para uso especial e sempre os resultados finais, que serão gravados no filme, podem ser vistos no visor da máquina.

Quanto aos acessórios recomenda-se a aquisição de uma objetiva grande-angular de 35mm e uma teleobjetiva de 135mm. Existem objetivas zoom que, apesar de serem menos luminosas, permitem regular a proximidade de um motivo sem necessidade de trocar a objetiva ou mudar de lugar, ou seja, com um único acessório passar de uma grande-angular para uma teleobjetiva. Entretanto, a objetiva normal de 50mm, para quem começa, possibilita o registro da imagem nas suas verdadeiras proporções.

Com relação a outros acessórios e aparatos fotográficos lembramos que é interessante a aquisição de um bom tripé que deve ser resistente, firme e permitir o máximo de ajustes de altura e de ângulo. A sua utilização se justifica quando necessitamos de exposições mais longas do que as normais. Não devemos esquecer do flash eletrônico que permite a realização de fotografia em condições críticas de iluminação, além de servir como luz de enchimento em situações especiais.

Além destes acessórios básicos, existem muitos outros com fins específicos como filtros dos mais diferentes tipos e funções - UV, Skylight, polarizador, de correção de cor, de efeitos especiais, de densidade neutra, etc. Na medida em que o fotógrafo sentir a dimensão da fotografia, começa a buscar a utilização destes recursos para corrigir ou acrescentar algo mais na sua proposta artística.




Informativo – Efeitos especiais do tipo que encontramos na capa desta revista, como podem ser obtidos? O senhor poderia nos enumerar e explicar algumas técnicas para eles?








Germano - Com relação à foto da capa, trata-se de um "sanduíche" de dois negativos. O primeiro consegui às 09 horas de uma manhã ensolarada de Florianópolis. Para isso recorri ao uso de dois filtros polarizadores que, quando cruzados, dão a tonalidade azulada que lembra uma vista noturna. O segundo obtive em minha residência quando fotografei uma bola de Natal apenas iluminada frontalmente por uma lâmpada e com o uso de um filtro de efeito especial - cross ou de estrela. A técnica do "sanduíche" consiste em juntar dois negativos, fazendo com que a imagem de um deles passe para as áreas de sombra do tema do outro negativo. A foto em questão dá idéia de criar uma fotografia que seria usada como mensagem de Natal e Ano Novo de 1986 quando apareceria o Cometa Halley o que, para nossa frustração, não aconteceu.

Existem muitos tipos de efeitos especiais em fotografia. Desde o simples passar vaselina sobre o filtro incolor ou colocar meia de mulher esticada na frente da objetiva para conseguir fotos de focos suaves, até fotos de dupla, tripla ou tetra exposições, que são bem mais difíceis de realizar, possibilitam uma variedade de fotografias que ficam na dependência da criatividade e originalidade de cada fotógrafo.



Informativo - Hoje, há um assunto muito "badalado" em termos de fotografia: os créditos ou direito autoral. Como o senhor se pronunciaria a este respeito?

Germano - A questão é tão séria que, recentemente. tivemos no Clube do Fotógrafo Amador uma reunião ordinária que tratou especificamente do assunto "direito autoral da fotografia". Para isso contamos com a presença do Professor Antonio Suliani, presidente da EDUNISUL (Associação das Editoras Universitárias da Região Sul) e estudioso sobre o assunto que conduziu, com muita competência, as nossas reflexões.

Naquela ocasião, ficou clara a preocupação dos fotógrafos em geral com seus direitos autorais, uma vez que atualmente existe uma verdadeira rapinagem e desrespeito com os direitos daqueles que fotografam profissionalmente ou de forma amadorística.

É com freqüência que encontro obras de minha autoria, que, no princípio foram cedidas para algum fim específico que justificasse a gratuidade, publicadas por terceiros sem minha permissão e mesmo sem qualquer citação do crédito que deveria constar próximo à margem da fotografia. É uma contravenção legal muito praticada no Brasil.

A lei brasileira que regulamenta os Direitos Autorais é a Lei 5.988 de 14 de dezembro de 1973. É o artigo 82 que trata objetivamente da utilização da obra fotográfica.

A Lei 5988/73 especifica que as obras fotográficas, desde que, "pela escolha de seu objeto e pelas condições de sua execução, possam ser consideradas criação artística", são obras intelectuais e , portanto, criações do espírito.

Para os que têm interesse sobre o assunto sugiro a obra de Bruno Jorge Hammes da Editora da Universidade. "Curso de Direito Autoral" que aborda, com muita propriedade, o direito do autor da fotografia.



Informativo - Há, em Caxias, um clube de fotógrafos amadores. Como se entra para este clube? O que este clube faz e qual a sua filosofia de existência? É de abrangência estrita a Caxias do Sul ? Troca relações com alguns outros clubes ou entidades nacionais? Fale-nos um pouco sobre o Clube do Fotógrafo Amador?

Germano - O Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul, fundado em 25 de setembro de 1980 e filiado à Confederação Brasileira de Fotografia e Cinema congrega pessoas aficionadas pela fotografia. Para explicar a sua filosofia ou, até melhor, o espírito de sua existência, permito-me citar um trecho de um folheto que em certa ocasião multiplicamos para a sua divulgação.

"No começo eram dois, eram cinco. E um vício comum, desses que fazem muito bem: a fotografia. Aos poucos, o grupo foi aumentando. Mais gente apareceu. Com certa timidez no início: eu vim só para ver, minha máquina não é grande coisa, minhas fotos não são boas, ainda tenho muito a aprender. A resposta: todos têm muita coisa a aprender.

Já ia longe a noite, quando alguém, dos mais viciados é claro, estourou com a idéia: quem sabe, vamos fundar um clube. Para reunir mais gente, discutir, estudar, trocar experiência. É aquela história da união faz a força. Todo o mundo topou. E foi criado o Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul, com sede e foro na cidade de Caxias do Sul, como diz o Estatuto.

Assim, já temos uma certa organização. Necessária. Somos pois, organizados, mas não muito. Porque isso não é fundamental. Fundamental é fotografia, que para nós é emoção, com formas, cores, texturas, luzes, sombras, surpresas, encantamentos e desencantos, como toda a emoção.

A fotografia é para nós uma forma de vivermos e registrarmos o nosso tempo, suas belezas e contradições, com a pretensão de sermos um pouco, ou bastante, artistas. Por isso, não vamos tirar o lugar de ninguém. Mas temos espaço para todos aqueles que têm o nosso vício, pequeno ou grande. Portanto, se você curte fotografia, se quer aprender, ou até ensinar, procure a gente. Não é necessário que você tenha um equipamento sofisticado: máquina e acessórios das melhores marcas. Nada disso importa. Mas você precisa ter a paixão. E o vírus da fotografia".

O clube fica na Rua Sinimbu, 985 apto 51 e nos reunimos todas as quintas feiras às 20h30min. Participamos de concursos nacionais e internacionais além de realizarmos inúmeros concursos internos. Promovemos excursões fotográficas, além de confraternizar com entidades assemelhadas de Porto Alegre. Atualmente temos sócios de Nova Petrópolis e Farroupilha, além dos caxienses. E só chegar.

Veja mais em:

http://www.confoto.art.br/artigos02.htm : Como guardar minha imagem digital
http://www.confoto.art.br/fc_cfacs.htm : Um clube que ressurge com sangue novo
http://www.photographia.com.br/seculo.htm : Paixão de quatro gerações - Família perpetua ofício de fotógrafo